INTERAÇÃO

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Códigos, números, rótulos. Dificuldades para a interação humana. Ainda assim, se interam sobre os assuntos. E se interam porque interagem; e interagem porque precisam se interar. Às vezes, até uma coincidência torna-se uma interação.

Código da área, do município, do estado, da caixa postal – eleva ao cubo, soma dois e tira três. Depois de desvendar aquele difícil criptograma, o telefone chamou. Uma. Duas. Três vezes.

- Alô!

- Olá! Bom dia!

- Bom dia! – respondeu-me um senhor de voz distante e sotaque carregado. Ainda que eu não pudesse vê-lo, imaginava-o animado. Tinha, no eco de sua voz, uma força igualável à vida.

- Por gentileza, – dei continuação -, com quem eu falo?

- Francisco de Assis Ribeiro – respondeu-me sem receio algum, com a maior naturalidade.

- Seô Francisco, tudo bem?! Deixe-me perguntar uma coisa: aí é do Banco Palmas?

- Não! – respondeu de supetão. Não pestanejou; não pensou; não hesitou; não mudou o tom de voz. “Não” ele dissera, e dissera com uma convicção espantosa, como se já previsse o erro ao qual me lançava. Continuou, sem perder a empolgação ou demonstrar-se desgostoso: - o número aqui é de final 70! O Banco é 79! Você ligou errado!!

- Oras, veja só! Peço desculpa então, Seô Francisco! Vou tentar de novo!! – (malditos números!) - Obrigado e desculpa!

- Tudo bem! Esteja às ordens!

- Tchau tchau...

- Tchau...

Uma coincidente e feliz interação que me provou uma interação. E interagem porque precisam se interar; e se interam porque vivem a interagir...

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